Henri Cartier-Bresson



Henri Cartier-Bresson era um artista inato. Pensava como artista, viveu como artista. Genuíno em tudo o que fez e em tudo o que disse. Descomplicado para falar, para fotografar, para pintar, para viver… Falou o óbvio ululante e por isto mesmo foi gênio.  
Amava a liberdade acima de tudo e antes de tudo. Não se deixou prender, não se deixou encurralar. Dava o fora sempre. A liberdade era sua religião. Jamais ficou num brete. Amava o rádio, pois dizia que através deste veículo se usa mais a imaginação. Não gostava da luz ofuscante. Não gostava que tirassem fotografias dele. Dizia que não queria que fizessem com ele, aquilo que fez toda a vida com os outros. Cobriu o rosto sempre que pode.

Cartier-Bresson foi artista de vanguarda, lírico, pintor, desenhista, literato, foto-jornalista… Um poeta. Fazia poesia através da câmera fotográfica. Com graça e leveza. Sempre passou, ou tentou passar desapercebido. Sempre invisível.
Suas imagens não conheciam limites. Ele não conhecia limites. Dizia que todos deveriam desenhar, não importa o resultado, o importante é desenhar. Não importam as respostas, só importam as perguntas. Dizia que devemos questionar tudo e sempre. Questionar sempre…Saber sempre do que se trata. É preciso saber do que se trata. 

O que detonou sua vida de fotógrafo foi a fotografia de Martin Munkasci publicada na Revista Photographies em 1931, onde os 3 meninos negros nus no Congo, que saem correndo em direção às ondas do mar, numa coreografia de dança, com a liberdade genuína do ser humano…Totalmente livres sem obstáculos, poderosamente sensuais, exuberantes, joviais, vivos… Leves e verdadeiros, brincando entre si, como se fossem os únicos possuidores da verdade humana. Eles personificam a liberdade, a carne sem pecado. Seus movimentos foram então congelados praticamente no ar, por Munkasci, onde aparece a silhueta dos três de costas…
O momento exato que expressava aquela situação foi congelado nesta fotografia, que impressionou Bresson por toda a vida. ‘’O equilíbrio plástico desta foto suspende seu ímpeto pela vida…Um retorno às origens…A mais nobre humanidade. ‘Dizem aqueles que o conheceram, que era a única foto em sua parede… 

Esta foto foi o gatilho de sua efervescente carreira de fotógrafo.  A partir daí, ele continuou fazendo a estética do corpo humano em suas fotos, introduzindo um novo conceito de liberdade no foto-jornalismo, sem perder a graça e a leveza de um artista verdadeiro. Nada é pesado em suas fotos, apesar do drama. Todas são líricas e emocionantes. Todas são minuciosamente e incansavelmente compostas com a simplicidade de um gênio.
 

Ele esmagou como ninguém, sem fazer barulho. Ele apareceu como ninguém sem, ao menos, se exibir. Mas, com um artista inato, toda a sua referência é pictórica, não resta a menor dúvida…Concluindo pela sua composição. A geometria das formas é uma tônica em suas imagens. 



A partir da foto de Munkasci, Bresson saiu para o mundo a fotografar, congelando o momento decisivo, que ele define como o momento certo para apertar o disparador e tentar captá-lo. “Para mim, a fotografia é um reconhecimento simultâneo, numa fração de segundo, do significado do acontecimento, bem como da precisa organização das formas que dá ao acontecimento sua exata expressão”, diz”.

Não usava tripé, somente uma Leica na mão, justamente para passar desapercebido e não perder o momento certo, o momento decisivo…assim, não perdia a fluidez do tema. Estava sempre ali, no momento certo e no lugar certo, com seu olho de ciclope, a fim de captar dos outros alguma expressão, algum silêncio. Tinha a paciência de Jó.  Era rápido e vivo.
Ele suportou a fama, mas diz que ela é terrível e mordaz, pois ficamos acorrentados a ela. Só ficava à vontade quando passa desapercebido. Sempre comentou que Degas disse uma vez: ‘’é ótimo ser famoso…Com a condição de ser desconhecido”, o que ele concorda completamente. Ele achava importante que as outras pessoas gostem do que fazemos…É o estímulo para nunca ficarmos parados. Não levava a sério a si próprio e era contraditório. Dizia que se fosse uma pessoa que não se incomodasse, não seria fotógrafo. Ele vestiu a camisa da fotografia. 
A fotografia por si só não o interessava, somente a reportagem fotográfica, onde há a comunicação entre o homem e o mundo. É uma dança, onde passamos desapercebidos com a câmera na mão, registrando todos os momentos decisivos. Adorava estar presente no mundo, na rua…Tentando captar estes momentos, testemunhando com a alegria da composição das formas. Evitou sempre a anedota, apesar de muitas fotos terem humor. Dizia que a grande fotografia é um presente do acaso e devemos tirar proveito do acaso. Mas apesar de amar a reportagem fotográfica, achava que a fotografia tem algo de mórbido. Dizia ser raro uma foto passar uma emoção por mais de um instante. 



Não tinha imaginação para fazer cinema, somente fotografia, por isto filmou documentário. O retrato era o que achava mais difícil, mas adorava fazê-lo. Ficava horas na frente da pessoa, até conseguir captar seu silêncio e não sua expressão. No retrato não há normas. A relação é direta.  Era o que chamava deo momento decisivo.
Bresson foi completamente apaixonado pelo que fazia… Pela vida, pela natureza, pelas pessoas…     Principalmente pela liberdade… Pela liberdade de ser, de estar, de viver, de pensar… De pensar… De andar, de fotografar, de desenhar, de sorrir, de ir e vir. Provavelmente foi, durante toda a vida, uma pessoa que jamais desistiu de si próprio, jamais desistiu daquilo que acreditava… De ser feliz… Sempre foi assumido de tudo o que sentia… É só ver sua trajetória como fotógrafo e como pessoa. Enfrentava as situações de frente e assumia o que acontecia. Decidia com paixão… Vide todas as suas fotos. Provavelmente não ficou esperando a vida passar para morrer. Viveu intensamente sua paixão. Não se entregou nunca. É admirável.
Cartier-Bresson afirmava que temos idéias pré-concebidas, pois quando chegamos diante de uma pessoa, temos uma primeira impressão e esta é a que persiste para sempre, mesmo que depois venhamos conhecer a pessoa por inteiro… Mas a primeira impressão é a primeira impressão…Acreditava na sua intuição.
‘’O visor da máquina fotográfica nos permite ver as pessoas completamente nuas… Não fisicamente…”

Somente os assuntos marginais o interessavam… Tudo que estava á margem. Acha que isto é que deve sobressair. Para le, não era possível aprender a tirar fotografias. É preciso ter talento para perceber e reagir para disparar o botão na hora do clímax. Assim se evita que um pedaço da realidade caia no esquecimento. Esta é uma partida. 
Para ele, a fotografia e o desenho estavam muitos próximos. Enquanto o desenho é meditação, a foto é um tiro. No desenho podemos ficar bastante tempo ou refazê-lo se preciso for, porém na foto corremos contra o tempo, sem a certeza de que ficará bom.
A foto é ação e o desenho, meditação. Na fotografia falta o grafismo do desenho. Ele iniciou no desenho e na pintura, depois fotografou depois voltou ao desenho, sua paixão inicial. Através do desenho ele tentou entender melhor o mundo e a si mesmo. Passou a falar através do desenho.
Rodin disse: ‘’o que se faz com tempo…O tempo respeita.” E ele concordava com isto também. Não tinha medo da morte, somente da dor.
Esperava que aquilo que viu no mundo o mudasse para melhor. Não resistiu à mudança.  Apesar de ter se baseado toda a vida na foto de Munkasci, não se alimentou do passado, não tinha nostalgia, o que considerava uma coisa completamente negativa. Dizia que quem ri por último, ri melhor.
‘’FOTOGRAFAR É COLOCAR NA MESMA LINHA DE MIRA, A CABEÇA, O OLHO E O CORAÇÃO.” 
Henri Cartier-Bresson
Nasceu em 22 de agosto de 1908, em Paris. Descendente de uma família proeminente da indústria têxtil, que o queria nos negócios familiares. Mas Bresson nasceu artista. Frequentou a Ecole Fénélon e o Lycée Condorcet em Paris. Estudou pintura com Cotenet (1922-23) e com André Lhôte (1927-28). Concluiu pintura e filosofia na Universidade de Cambridge. Começou como fotógrafo em 1931. Foi influenciado pelo surrealismo. Com 21 anos já tinha absorvido a atitude de revolta do surrealismo. Aprendeu composição e proporção com Lhôte e completou seu serviço militar.
Em 1939, viajou para a África, onde permaneceu por um ano. Ganhou a vida de diversas formas…Como vaporeiro, vendendo bugigangas e carne salgada que ele mesmo caçava e preparava.Lá também adquiriu malária e sua primeira câmera fotográfica de segunda mão feita por Krauss. Mas todos os filmes que fotografou lá foram deteriorados pela umidade.
Mas apesar de tudo, esta viagem mudou sua vida. Sempre este aberto às mudanças em sua vida, talvez por isto tenha influenciado tanta gente no mundo inteiro. Talvez por este espírito tão dinâmico e sem medo, tenha tantos admiradores.  Apesar do fracasso das primeiras fotografias, a África não somente mudou sua vida, como o tirou da pintura e o colocou na fotografia. Quando voltou à Paris, imediatamente comprou uma Leica, que o acompanhou por toda a vida.
Entre 1932 e 1934, Cartier-Bresson fez algumas de suas melhores fotografias. Apesar de ter começado olhando para os despossuídos e oprimidos, principais temas dos fotojornalismo, muito cedo estas mesmas fotos impressionaram a França, Espanha, Itália, México, como arte, muito mais do que como reportagem.
Em 1935, partiu para o México e para New York, onde permaneceu por um ano também. Neste período deixou de fotografar. Fez filmes com Paul Strand, retornando em 1936 para Paris, onde trabalho até 1939 com o cineasta francês Jean Renoir, filho do pintor, a também fazendo filmes.
Cartier-Bresson prisioneiro
A Segunda Grande Guerra tinha começado. Bresson foi prisioneiro de guerra dos alemães por três anos. Tentou fugir três vezes e só conseguiu na última vez. De volta a Paris trabalhou na Resistência Francesa. Voltou a filmar novamente depois da guerra, dirigindo LE RETOUR, um documentário sobre os campos nazistas e a volta da guerra. Mas sua falta de controle no processo de colaboração de produção de filmes, finalmente fez Bresson optar pela fotografia.
Em 1946 viu a chance de recomeçar sua carreira fotográfica. Ficou sabendo que o MOMA estava planejando uma exibição póstuma de suas fotos, através do curador Beaumont Newhall e sua mulher, Nancy, pois achavam que ele havia morrido na guerra.Informados de que Bresson estava vivo, a exposição foi transformada em uma retrospectiva de suas fotos em meio de carreira.
Ele viajou para New York em agosto de 1946, com suas histórias dos campos de concentração, tentativas de fuga e trabalho clandestino executado para a Resistência Francesa. Começaram a ser produzidos artigos heróicos sobre ele. Quando a exposição abriu, seu amigo Robert Capa estava lá.Em 1947, Cartier-Bresson, Robert Capa, David ‘’Chim” Seymour e George Rodger, fundaram a AGÊNCIA MAGNUM.
Entre 1948 e 1950, gastou a maior parte do seu tempo na Índia, Burma, Paquistão, China e Indonésia.  Fotografou o fim do domínio britânico na Índia e o assassinato de Gandhi. Na China fotografou os primeiros meses de Mao Tse Tung. Este período estabeleceu sua reputação como foto-jornalista de incomparável sensibilidade e habilidade. Suas fotos capturaram os novos acontecimentos da época e a vida cultural dos países que fotografou.





Depois de 3 anos voltou para casa e produziu o livro IMAGES À LA SAUVETTE. As imagens, segundo Peter Galassi, são imagens tiradas rapidamente sem premeditação.  Relutando, Cartier-Bresson fez um prefácio com suas idéias sobre fotografia, com o título de L’INSTANT DECISIF. Na edição americana do livro, de Dick Simon da Simon&Schuster, o prefácio com o título agora famoso, passou a ser o título do próprio livro, THE DECISIVE MOMENT. Isto mudou para sempre o rumo das pequenas máquinas fotográficas de 35mm.
Continuou fotografando pelo mundo, Europa, antiga União Soviética, Japão, China, México, Índia. Mas na metade da década  de 60, ele voltou insatisfeito com o seu trabalho. Foi para a Agência Magnum com a intenção de destruir tudo. O editor de fotografia e escritor Romeo Martinez convenceu Bresson a permitir que o editores Robert Delphire Pierre Gassman, produzissem um livro com suas melhores fotos. Esta foi aparentemente a segunda vez que ele tentou destruir suas fotos. A primeira foi na época da guerra, quando ele teria destruído as fotos e pedido ao pai para guardar  os negativos em uma lata no e depositar em um cofre de Banco.
Em 1966, Bresson retirou-se da Magnum, mas permitiu que a Agência continuasse a distribuir suas fotos.Em 1970, com 62 anos, casou com a fotógrafa Martine Frank. A partir daí, parou de fotografar profissionalmente, dedicando-se somente à pintura e ao desenho. Na época da retrospectiva de 1979 no International Center of Photography em New York, Cartier-Bresson recusou entrevistas, embora ocasionalmente cedesse conversações com alguns, mas poucos diretores. Ele passou a ser a consciência da Fotografia, sem precisar falar.
Cartier-Bresson tinha um certo prazer no conflito. Ele modelou na filosofia visual, algo de contraditório.Nem artistas nem fotojornalistas conseguem expressar o significado da obra de Bresson. Sua obra incomparável é o resultado de uma experiência poética e sempre apaixonada por tudo. O fundamental para ele, era o absoluto prazer que o trabalho lhe dava. James Thrall Soby disse que ‘’a câmera de Cartier-Bresson não é franca, é encantada.”



Sua influência na fotografia mundial, além de não ter precedentes, é imensurável. Suas fotos são realmente mágicas. Ele formou o pensamento dos fotógrafos durante décadas. A idéia de que a foto é o que se vê num exato momento em que nosso instinto deve estar preparado para captar, foi incutido por ele. E para isto temos que estar na rua, fotografando e experimentando. Foi, talvez, o fotógrafo mais hábil a cria imagens belas retratando a essência da hora e do local.
Fonte: Wikipédia