Bob Wolfenson “Cartas a um jovem fotógrafo"



Esta entrevista foi concedida para este Blog que também é de um fotógrafo e jornalista e trabalha na mesma área que eu. Em dois dias eu praticamente não consegui parar de ler o Livro. Bob Wolfenson é referência para todos os aprendizes e grandes fotógrafos. Agora vamos a entrevista concedida ao Blog OLHA, VÊ:

"A minha “praia” na fotografia sempre foi o fotojornalismo. Porém, como um bom apreciador da boa imagem e um atento espectador do que se faz no mundo fotográfico, sei da importância de Bob Wolfenson neste cenário. Agora que li o seu livro, “Cartas a um jovem fotógrafo – O mundo através das lentes”, fiquei com mais interesse em “ouvir” Bob Wolfenson. Sem dúvida, recomendo o livro para o jovem, velho, novo, iniciante… Enfim, qualquer fotógrafo."

OLHA, VÊ O seu livro “Cartas a um jovem fotógrafo – O mundo através das lentes” já começa com uma constatação bem realista e, de certa forma, íntima: “A fotografia é antes de tudo meu ofício, o que tecnicamente sei fazer, [...]”. Atualmente, acho bastante pertinente relacionar “ofício” com o fazer fotográfico. Como esse o ofício, a técnica, flui em pensamentos e ideias no seu trabalho?

BOB WOLFENSON Bom, como digo em meu livro, não sou escravo da técnica no sentido em que vejo muitos fotógrafos serem, aqueles que tem um sem número de equipamentos ficam um pouco a mercê deles e dos efeitos fáceis. Mas, respondendo mais diretamente a sua pergunta, eu diria que não tenho uma única premissa. Muitas vezes, opero uma 35mm sem grandes preocupações, sem nenhum assistente como fiz agora com um trabalho que lancei: Cinépolis. Outras vezes, trabalho com uma câmera 8×10, que pressupõe um aparato grande em volta e no mínimo, 2 assistentes, pra ficar só nestes 2 exemplos, ou seja, cada trabalho que penso ou que invento esta diretamente relacionado com sua possibilidade ou impossibilidade técnica. Se bem que, acho sempre bom pensar na impossibilidade como algo a ser superado.

OLHA, VÊ Como a fotografia entrou na sua vida?

BOB WOLFENSON Foi mais uma contingência de vida do que propriamente uma vocação descoberta. Quando eu tinha 16 anos, meu pai faleceu, resolvi trabalhar e o trabalho que arranjei foi no estúdio fotográfico da Editora Abril, na época, dirigido pelo grande fotógrafo cearense Chico Albuquerque. A partir daí fui me tornando, digamos assim, mais vocacionado para a coisa, mas só realmente alguns anos mais tarde é que me dediquei a ser fotógrafo em tempo integral.

OLHA, VÊ Você fala que a “divulgação” da sua experiência americana havia funcionado para conseguir um editorial na Vogue, dirigida por Regina Guerreiro, mesmo sem apresentar portfólio. Todo o livro está recheado de observações bem serenas de como foi a sua trajetória na fotografia. De certa forma, você se abre bastante. Ainda hoje, existe essa coisa de fulano “veio” de Nova York. Sicrano trabalhou com Avedon, etc?

BOB WOLFENSON Hoje acho que menos, o mundo diminuiu de tamanho e ter estado em Nova York, já não é uma experiência tão difícil, no sentido que mais pessoas têm acesso a informações, na época somente possíveis in loco. Porém, alguém que tenha trabalhado com Avedon teria um grande currículo na mão em qualquer lugar do mundo, inclusive hoje em Nova York.

OLHA, VÊ Você cita que no início havia uma “rivalidade” com J. R. Duran que dura até hoje e até confessa que foi a “propulsão do seu desenvolvimento”. Você fala em opostos. Que opostos são esses?

BOB WOLFENSON Xi sei lá, talvez algo ligado as nossas personalidades, e portanto ao nosso trabalho. Entendo um pouco o que esta subjacente à sua questão, pois quem está olhando para o tipo de fotografia que nós dois exercemos, acha que somos da mesma cepa e, de fato, muitas vezes somos confundidos. De qualquer maneira, este “confronto”, seja com quem for, sempre é um fator de crescimento. Quando se olha para o trabalho de um outro com alguma admiração, em geral, penso que idéia sensacional porque não pensei eu nisso tenho que me mexer.

OLHA, VÊ Sobre a fotografia publicitária você é muito consciente do papel que o fotógrafo, muitas vezes, tem que ter. Algumas vezes, ser um mero fotógrafo para cumprir o que o cliente quer, como você fala no livro “o pedido chega meio mastigado”. A sua posição é muito consciente – não tão comum em fotógrafos experientes e famosos. A dicotomia do “autor” versus o “clicador”. A fotografia publicitária está cada vez mais indo na direção de re-fotografar tal referência?

BOB WOLFENSON Salvo raras exceções, a fotografia publicitária sempre foi isso. É uma engrenagem muito grande com muitas instâncias de aprovação, e sempre tem um cliente/agência que quer vender sua marca e/ou produto, contra um fotógrafo com veleidades artísticas e muitas vezes ideológicas. No entanto, depois de anos de experiência, acho que a fotografia publicitária não é o palco apropriado para este embate. É lógico, que não se deve abandonar princípios de integridade e eficiência, mas é necessário se entender o alcance deste tipo de trabalho para o fotógrafo. Contudo, o que ocorre hoje é que a fotografia publicitária deixou quase de ser fotografia pura. Ela é quase sempre uma montagem de vários clicks, o que justifica um pouco a anulação da autoria para o fotógrafo. O fotógrafo publicitário equivale a um DJ que mistura ritmos e sampleia outras músicas (as tais referências que você alude acima), para fazer o seu singular trabalho. Não acho isso, nem melhor nem pior do que antes, é o que é.

OLHA, VÊ Tem um trecho do livro que você analisa: “Estamos vivendo em uma época de imagens demais, nos intoxicamos de tanta informação visual. [...] Todos os temas parecem já ter sido explorados, o que torna nossa vida muito difícil. [...]”. O fotógrafo deve pensar sempre em fazer o “novo”? O “novo” não seria a visão de cada autor?

BOB WOLFENSON Você tem razão, concordo plenamente, mas a questão é a profusão de imagens a que estamos submetidos o que torna esta “visão” difícil de ser encontrada.

OLHA, VÊ Com a tecnologia digital, aquele “tempo/relação” de esperar para ver o filme revelado, as cópias e todo o resto se perdeu. É apenas um saudosismo ou um valor agregado ao produto final?

BOB WOLFENSON Eu acho hoje mais gostoso, se é a isso que você se refere. Em termos de processo, de ritual, houve uma alteração monumental, olha bem, eu trabalhei por mais de 30 anos no processo analógico, fiz uma passagem para o digital há uns 3 anos e não tenho saudades do processo anterior no que diz respeito a feitura do trabalho. Em termos de resultado técnico, acho que, há ainda alguns degraus a subir.


Algumas imagens de trabalhos de  Bob Wolfenson



  












  



















Biografia 
(Fonte Site Bob Wolfenson)

Bob Wolfenson fotografa há 35 anos. Cresceu no Bom Retiro, bairro judaico localizado na região central da cidade de São Paulo. Nos anos 1980 viveu durante um ano em Nova Iorque, onde trabalhou como assistente do fotógrafo de moda norte-americano Bill King. Na sua volta ao Brasil, inicia um período mais prolífico de sua carreira, voltado à fotografia de moda. Enriquecido pela experiência americana, passa a colaborar com as principais publicações brasileiras e grandes agências de publicidade internacionais.

Nos anos 90, consagra-se como um dos grandes nomes da fotografia no Brasil. O livro Jardim da Luz – composto de retratos de inúmeras personalidades da cena política, artística e cultural brasileira – e a sua respectiva exposição, realizada no MASP, confirmam a eminência de seu trabalho.

Em 1995, é laureado pela Funarte (Fundação Nacional das Artes do Ministério da Cultura) como o melhor fotógrafo do ano na categoria arte. No ano seguinte, recebe o prêmio de melhor fotógrafo de moda pelo Phytoervas Fashion Awards.

Sua face mais eclética vem à tona nos anos 2000. Idealiza e concebe a exuberante revista 55, dedicada às artes visuais e à cultura brasileira. A 55 chega apenas à segunda edição, dando lugar à sua sucessora, a revista S/N.

À ocasião do São Paulo Fashion Week de 2003, realiza uma grande exposição de retratos de moda, Moda no Brasil por Brasileiros, que ocupa o pavilhão da Bienal de São Paulo durante o evento. A exposição dá origem a um livro homônimo, lançado pela Cosac&Naify.
Em 2004, o Museu de Arte Brasileira – FAAP abriga uma grande exposição que conjuga duas séries fotográficas de sua autoria, e é a matriz para o livro Encadernação Dourada – Antifachada, também editado Cosac&Naify.

Uma campanha para a Grendene, para a qual fotografou Gisele Bündchen, lhe rende o 1o prêmio da Fundação Conrado Wessel para fotografia publicitária, em 2005.

Em A Caminho do Mar, o fotógrafo explora a área das refinarias de Cubatão, a partir de um diálogo-lembrança com memórias da infância. O trabalho é exposto em 2007 na Galeria Millan, em São Paulo. No mesmo ano, assina as fotos de um calendário das grandes modelos brasileiras, realizado para a São Paulo Fashion Week.

Em 2008, lança pela editora Schoeler o livro-caixa-portfólio Cinepolis, trabalho que revela uma visão cinematográfica da vida cotidiana, sublinhando seus aspectos melancólicos e devastados.

Em 2009, a partir do portfólio editado, realiza a exposição Cinepolis, no Museu de Arte Moderna da Bahia. O trabalho volta a ser exposto em 2011, na Galeria da Gávea, no Rio de Janeiro.

A mostra Apreensões, que ocupou o Centro Universitário Maria Antônia e esteve presente no SP-Foto, ambos em 2010, escancarou em detalhes o interior dos depósitos onde as capturas da justiça são armazenadas. Registrando drogas, automóveis, animais silvestres e armamentos, o fotógrafo cruzou o país criando “um inventário de uma certa tragédia brasileira”, como ele mesmo descreve. O livro das Apreensões foi editado pela Cosac&Naify.
Bob revisita suas memórias de infância na exposiçãocoletiva Bom Retiro e Luz: Um Roteiro, 1976 – 2011, que homenageia os tradicionais bairros paulistas. A mostra, concebida para o Centro de Cultura Judaica de São Paulo em 2011.

No campo da publicidade e moda, alguns de seus clientes são: Volkswagen, Itaú, L’oreal, Vivara, Arezzo, Mitsubishi, Claro, C&A, Vivo, Credicard, Tim, , Riachuelo- Osklen, além das conceituadas revistas Vogue, Elle, Wallpaper, Photo, entre inúmeras outras.

Ganhador de inúmeros prêmios, Bob segue trabalhando incessantemente em São Paulo para as principais publicações nacionais e algumas internacionais. Sua obra integra importantes coleções de arte como as do MASP, Itaú Cultural, Museu de Arte Brasileira-FAAP, MAM-SP, Coleção Pirelli-MASP, etc.

Currículo Bob Wolfenson:
1954 – Nasce em São Paulo.
1966-67 – As primeiras fotos.
1970 – Ingressa como estagiário-aprendiz no estúdio fotográfico da Editora Abril na época dirigido pelo fotógrafo Francisco Albuquerque e lá permanece por 4 anos.
1973 – Ingressa na Faculdade de Ciências Sociais na USP.
1974 – Sai da Editora Abril e começa carreira solo como fotógrafo free-lancer para revistas da própria editora.
1982 – Viaja a Nova York e trabalha como assistente para o fotógrafo Bill King.
1985 – Começa a trabalhar para as principais revistas brasileiras.
1989 – Faz a primeira exposição individual Minhas Amigas do Peitona – Galeria Fotóptica.
1990 – Lança livro e exposição Portfolium na Galeria Collector’s, desta coleção duas fotos são adquiridas pelo MASP para integrar seu acervo.
1991 – A Pirelli adquire e expõe três de suas fotos que passam a integrar a Coleção Pirelli de Fotografia. A Revista Gráfica número 30, publica uma matéria de 16 páginas sobre seus trabalhos.
1995 – Ganha o prêmio Funarte – Ministério da Cultura de melhor fotógrafo do ano na categoria arte aplicada pela campanha para a griffe Viva Vida realizada em Israel. A revista Vogue publica edição especial sobre seus trabalhos.
1996 – Realiza a exposição Jardim da Luzno MASP (Museu de Arte de São Paulo) e lança livro do mesmo nome, co-editado pela Cia das Letras e DBA Books and Arts. A revista Photo francesa publica 4 páginas a seu respeito dentro de um número especial sobre o Brasil.
1997 – Recebe o prêmio Phytoervas Fashion Awards como melhor fotógrafo de moda do ano.
1998 – Indicado novamente ao prêmio Phytoervas Fashion Awards.
1999 – Convidado pela Marlboro Adventure Team para fotografar no âmbito do seu concurso no México e nos Estados Unidos (Utah).
2000 – É novamente indicado ao prêmio de melhor fotógrafo de moda do ano pela ABIT. O trabalho para Marlboro Adventure Team resulta num livro em conjunto, com o fotógrafo J.R. Duran editado pela Bookmark. Co-edita e lança a revista de imagem, moda, comportamento e fotografia 55.
2002 – Associado à gráfica Litokromia e aos designers Hélio Rosas e Roberto Cipolla, lança a revista S/Nº, que sucede a extinta 55. Realiza exposição “Moda no Brasil por Brasileiros” no Pavilhão da Bienal no âmbito do “São Paulo Fashion Week”.
2003 – Lançamento do livro “Moda no Brasil por Brasileiros” em parceria com Paulo Borges, editado pela Cosac & Naify. Edita e fotografa integralmente o número Voyeur da revista Homem Vogue.
2004 – Ganha o primeiro prêmio da Fundação Conrado Wessel, concedido exclusivamente aos fotógrafos de publicidade pela melhor fotografia publicitária do ano de 2003 (Campanha da Grendene com a modelo Gisele Bündchen). Lança a caixa/livro de fotografia contendo as séries Antifachada e Encadernação dourada, pela editora Cosac&Naify e realiza exposição respectiva, no Museu de Arte Brasileira da FAAP em São Paulo.
2005 – Em parceria com o fotógrafo Fernando Laszlo realiza a curadoria da Exposição do fotógrafo brasileiro, radicado em Nova York, Otto Stupakoff, no espaço do São Paulo Fashion Week.
2006 – Fotografa para a décima edição do São Paulo Fashion Week, o Calendário das 25 mais importantes modelos que fizeram parte da história do evento, figurando entre elas as tops Gisele Bündchen, Isabeli Fontana e Raquel Zimmermann.
2007 – Exposição itinerante, “À Moda de Bob Wolfenson”, retrospectiva sobre suas fotografias de moda, na FAAP – Ribeirão Preto e FAAP – São José dos Campos. Exposição de 15 imagens em grande escala, “A Caminho do Mar”, sobre paisagens industriais evocativas da infância, na Galeria André Millan – São Paulo.
2008 – Ganha o prêmio de melhor fotógrafo de moda e melhor fotógrafo de publicidade, outorgado pelo evento, O Melhor da Fotografia no Brasil, que congrega somente curadores, fotógrafos e pesquisadores da área.
2009 – Escreve e lança o livro “Cartas a um jovem Fotógrafo” sobre experiências da sua trajetória e vida profissional. Lança a caixa-livro-portfolio, Cinepolis, sob a curadoria e direção artística do fotografo e curador internacional Pierre Devin editado pela Schoeler Editions.